Olá, pequenos leitores! Nesta página vocês vão encontrar textos interessantes e educativos. Leiam e divirtam-se!
Bom dia, pequenos! Mais uma poesia pra vocês curtirem:
O CONTA-GOTAS INSENSÍVEL
Pinga, pinga conta-gotas,
Não pare jamais de pingar.
Pinga dentro desta boca,
Pinga aqui, pinga acolá.
Nunca esqueça os ouvidos,
Pinga nos olhos também.
Pinga sempre, meu querido,
Clareie a vista de alguém.
Nada mais sabe fazer
Na vida, senão pingar.
Trabalha quase a morrer,
Não pode nem conversar.
Pobre amigo conta-gotas,
Não sabe o que é amar...
Não conheço uma garota
Que queira nele pensar.
O jeito é seguir sozinho,
Sempre, sempre a trabalhar.
Terá de viver sem carinho,
Pois você só sabe pingar!...
E AMOR PINGADO?!...
NÃO DÁ!
Olá, criançada, Feliz 2015! Demorei a voltar, né? Festas e mais festas! Rsrs... Mas aqui estou de novo pra mostrar mais alguns textos interessantes pra vocês. E pra começar o ano, uma poesia:
TIC-TAC... TIC-TAC...
“Tic-tac... Tic-tac...
Assim é a minha vida.
Meu coração bate, bate,
Não tem volta, só tem ida!...
Vou pelo mundo batendo,
Não posso nunca voltar.
Se eu voltar arrebento
E ninguém vai me aceitar.
Tic-tac... Tic-tac...
Esta é a minha dor,
Pois, se mudar meu tic-tac
Não serei mais o que sou.
Fico triste a imaginar:
O que será das pessoas
Se eu parar de andar?
Será que isso as magoa?!...
Ou importância nem dão,
Ao ouvir o triste eco
Das batidas do coração
De um simples objeto?
Ser relógio não é bom,
Amor ele nunca tem.
Vive fazendo som,
Sofre como ninguém.
Todos dizem que sou útil,
Sei que importância isso tem.
Mas, preferia ser inútil
E poder sorrir também...
Tic-tac... Tic-tac...
Assim é a minha vida,
Meu coração bate, bate,
Não tem volta, só tem ida!”
..................................
Ah, finalmente encontrei,
O meu reloginho querido!
Por um momento pensei
Que eu o tinha perdido.
Posso ouvir seu som agora,
Que alívio isso me dá!
Como iria marcar a hora
De meu amor encontrar?
Oh, reloginho querido,
Eu te amo, eu te adoro!
A vida não tem sentido
Sem seu tic-tac sonoro.
E agora mais dois pra vocês:
MÁRIO, O MENINO SOLITÁRIO
Era uma vez um menino que gostava muito de ficar sozinho. Não tinha amigos e não gostava de ninguém.
Certo dia Mário (este era o seu nome) estava brincando perto de um despenhadeiro que ficava nos fundos de sua casa. Como sempre, sozinho. Chutava pateticamente, de um lado pro outro, sua bola branca de couro.
- Que brincadeira mais boba!... Sem graça! – Pensava entediado, sempre que estava brincando, mas nunca resolvia mudar seu jeito de ser. Nunca fazia boas amizades, como seria o normal. Na verdade não entendia o porquê daquela sensação ruim e de abandono que invadia sua alma quando estava brincando sempre sozinho.
De repente, a bola caiu no despenhadeiro de mais de vinte metros de altura e rolou barranco abaixo e ele ficou olhando a bola descer velozmente. Ficou desorientado, sem saber o que fazer.
Não queria perder sua inseparável bola. E como não tinha ninguém pra dar uma ideia, um conselho sobre o que deveria fazer, respeitando o ditado popular que diz “duas cabeças pensam melhor”, acabou tomando sua própria e solitária decisão.
Resolveu descer e recuperar sua companheira de solidão – a bola branca.
Segurou nos galhos de um arbusto e começou a descida perigosa. Sempre abaixado, Mário ia segurando nos matos e descendo... descendo...
Já estava na metade do barranco quando o galho de um arbusto que servia de apoio se quebrou e o menino rolou morro abaixo, igual a sua bola branca de couro.
- Aaaaahhhhhhhh!!!!!........ – Gritou apavorado e seu grito se perdeu no espaço.
Chegou lá embaixo desacordado. Ficou assim durante muito tempo e como era um menino solitário que não gostava de amigos, não teve quem o socorresse, porque ninguém o viu cair.
Quando voltou a si estava estendido no meio do mato onde não podia ser visto. Aturdido não conseguia entender o que tinha acontecido e nem podia se mexer.
- Alguma coisa está errada! Não consigo me mexer de tanta dor!... – Pensou angustiado o pobre Mário.
Ali ele ficou sozinho com os seus pensamentos confusos e pensou... pensou... Afinal, não tinha mais nada pra fazer naquele momento.
Fez a si mesmo muitas perguntas, como:
- Por que não gosto de ter amigos?
- Por que sou tão estranho?
- Por que sou diferente dos outros?
- Por que sinto uma sensação tão ruim quando estou brincando, se deveria ficar feliz?
- Será mesmo bom ser sozinho como eu?
E acabou concluindo:
- Se tivesse alguém brincando comigo, agora eu já teria sido socorrido.
Então, Mário, sozinho e com muita dor na perna direita, decidiu que se conseguisse sair daquela situação iria mudar. Iria fazer amizade com seus vizinhos, com seus colegas da escola e com seus próprios irmãos e primos. Iria se aproximar das pessoas e sentir o calor humano delas.
E aí viveria uma vida bem melhor e bem mais divertida. Finalmente ouviria o riso alegre das outras crianças e aprenderia muitas coisas boas com elas e com os adultos mais experientes. E, talvez, não sentisse mais aquela sensação ruim de sempre.
Já era quase noite quando, por sorte, um homem passou por ali e viu o nosso confuso e sofrido Mário.
E se não aparecesse ninguém, o que seria do solitário Mário?
O homem o levou pra casa e seus pais o levaram ao hospital onde engessaram sua perna que estava quebrada.
Lá mesmo no hospital Mário já começou a mudar o seu jeito estranho de ser.
Fez amizade com os outros pacientes, com os médicos e enfermeiros e até prometeu levar presentes pra eles quando ficasse bom.
Voltou pra casa e foi recebido por toda a família, pelos vizinhos, professores e colegas de sua escola. Ficou emocionado com a recepção tão calorosa e finalmente percebeu o quanto era querido por todos. E só então entendeu que ninguém pode viver completamente só, pois a amizade faz parte da vida.
Mário mudou, radicalmente, seu comportamento diante das pessoas. E passou a viver sempre rodeado de companheiros nas suas brincadeiras, nos seus trabalhos escolares... Enfim, em todos os momentos importantes de sua vida.
O JOVEM ABAJUR
Sou um pequeno e delicado abajur infantil com corpinho de gatinho.
Cheguei hoje, portanto é o meu primeiro dia de trabalho. Melhor dizendo, primeira noite.
Colocaram-me no quartinho do bebê, como eu já esperava. Fui criado pra viver num quartinho de criança.
A mãe do meu pequeno protegido acabou de entrar com ele nos braços.
Como é lindo e tão gordinho!
Sei que vou amá-lo muito. Serei seu companheiro nas noites silenciosas e velarei o seu sono com luz suave e muito amor.
Meus olhinhos brilhantes iluminam o quartinho lindamente decorado em tons de azul. Sinto-me feliz por fazer parte da decoração alegre e infantil. A mãe dele o deita no bercinho azul celeste e senta ao seu lado num banquinho da mesma cor. Começa acariciar o rostinho delicado do “nosso” pequenino, cantando baixinho uma canção de ninar, bem assim:
Feche os olhos meu filhinho,
A você sempre hei de amar.
Durma e sonhe com os anjinhos
Ouvindo a mamãe cantar!
A doce e suave melodia entra em meus ouvidos causando em mim um sono incontrolável. Mas sei que não posso dormir como o bebê. Minha obrigação é velar o seu sono durante toda a noite com os meus olhinhos bem acesos. Só posso dormir e descansar durante o dia.
Com voz meiga a mãe continua embalando o meu protegido:
Durma que está na hora
Do meu filhinho sonhar.
Quero que durma agora,
Pois precisa descansar!
Já não consigo mais me controlar e, juntinho com ele fecho os olhos, iniciando um sono tranquilo e gostoso.
A mãe do bebê me sacode preocupada porque deixei a escuridão entrar no quartinho. Desperto assustado e volto ao meu trabalho, envergonhado da minha negligência.
Sei que preciso cumprir o meu dever com perfeição, afinal, sou tão novinho ainda e hoje é a minha primeira noite de trabalho. Não posso fraquejar.
- O que terá este abajur?!... – Diz a mãe do bebê, muito aborrecida comigo – Será que já veio com defeito de fábrica? Amanhã mesmo vou levar pro conserto. E se continuar assim, vou devolver pra loja!
Sinto meu coração apertar, pois não quero ir embora. Gostei tanto do quartinho e do bebê moreninho de olhinhos verdes!... Juro que vou trabalhar direitinho, cumprindo com a minha obrigação! Ah, se eu pudesse dizer que não tenho nenhum defeito e que foi apenas um momento de sono por causa da sua bela e sonora voz... se ela pudesse entender que sou só uma criança também, talvez me perdoasse. E se eu pudesse dizer também que não fiz por mal...
Pensando bem, - concluiu a mãe do bebê – acho que não está com defeito nenhum, não. Eu é que não apertei na tomada o suficiente, só isso. Ele é tão novinho, não creio que já esteja com defeito.
Ao ouvir as palavras dela, sinto um grande alívio invadir meu corpinho brilhante e quentinho. Talvez tivesse adivinhado os meus pensamentos, quem sabe?
Agora estou tranquilo e confiante. Sei que serei muito feliz neste quartinho colorido de bebê!
Que tal mais este?
O SONHO DE GISELLE
- Olhe que coisa linda, Marta!
- Onde estamos, Giselle?
- Não faço a menor ideia, mas que tudo aqui é lindo, não tenho dúvidas!
- Giselle, aquela nuvem ali é mais branca e fofa do que esta aqui.
- Então vamos pra lá. O que estamos esperando?
As duas amiguinhas inseparáveis pularam em direção à grande e branca nuvem. Subiram no espaço com a leveza de uma pluma ao vento suave.
- Ah, que delícia!... Nunca pensei poder um dia saltar tão alto e devagarzinho, como nos filmes em câmera lenta. E você, Marta?
- Eu também!... Nem sei o que dizer... Se mamãe pudesse me ver... Onde estará ela agora?
- Não sei!... Não sei nem mesmo onde nós estamos!...
Caíram sobre a macia nuvem, como se tivessem caído num monte enorme de algodão.
- Giselle, veja!... São anjinhos!... Será que são de verdade? Como são lindinhos!... Ouça, estão cantando...
– Marta fechou os olhos pra ouvir melhor.
- Vamos ao encontro deles, Martinha? – Convidou a deslumbrada Giselle.
- Vamos nessa! – Sorriu a outra cheia de alegria.
Começaram a correr em direção ao grupo celestial. Seus pés afundavam suavemente na nuvem quentinha e macia, causando-lhes espanto e entusiasmo.
- Marta, olhe!... Viraram pra lá e desapareceram atrás daquela nuvem rosada.
- Então vamos mais depressa!... Não podemos perder os anjinhos de vista, minha amiguinha!
- Aonde será que eles vão?...
- Agorinha mesmo vamos saber. É só a gente correr.
Correram durante muito tempo e não se sentiram cansadas.
De repente pararam juntinhas. Estavam no alto de uma colina e lá embaixo avistaram um vale colorido. Elas ficaram mudas por alguns instantes, tamanho o espanto que invadiu seus corações infantis. O quadro que viam era divino.
Canteiros de miosótis, margaridas, rosas de todas as cores, violetas, dálias, crisântemos, cravos coloridos, lírios e muitas outras qualidades de flores lindas.
Ao redor do jardim, centenas de casinhas brancas, azuis, verdes... De todas as cores alegres que se possa imaginar. Como casinhas de bonecas.
Muitos anjinhos vestidos de longos roupões de cetim em cores suaves brincavam entre as flores e corriam pelas ruas limpinhas. Entravam e saíam das casinhas cantando doces canções. Alguns tocavam harpas, flautas e outros instrumentos musicais que as duas espantadas amiguinhas não conheciam.
Giselle conseguiu quebrar o silêncio, balbuciando extasiada:
- É o céu, Martinha!... É o céu!...
- Vamos até lá?
Como resposta Giselle pegou-lhe a mãozinha e puxou-a. Começaram a descer a colina em silêncio.
À medida que se aproximavam da cidade infantil, sentiam-se cada vez mais felizes.
A alegria dos anjinhos e suas canções divinas, o perfume das flores e a limpeza das ruas, contagiavam as duas.
Chegaram ao portão dourado e pararam amedrontadas pelo desconhecido. Não sabiam se lhes seria permitido entrar.
De repente, diante das duas, surgiu um anjinho sorrindo pra elas com muita simpatia. Abriu o portão de ouro reluzente e convidou:
- Entrem, por favor.
Giselle e Marta estavam paralisadas de emoção.
O menino sorridente tornou a falar:
- Vamos, entrem! Não tenham medo.
Entraram meio hipnotizadas.
O medo que sentiam se dissipou, deixando em seu lugar uma grande curiosidade.
Seguiram o gentil guia em silêncio.
As meninas sentiam cada vez mais o perfume das flores e ouviam com mais nitidez o cântico alegre e descontraído das crianças celestiais.
Jamais conseguiriam descrever com exatidão o que realmente sentiam naquele momento.
A paz entrava em suas almas pequeninas, proporcionando-lhes uma alegria imensa. Estavam felizes como nunca estiveram antes.
Chegaram ao jardim onde vários anjinhos olhavam pra elas sorrindo. Mas o guia não parou. Continuou andando e elas o acompanharam.
Giselle decidiu perguntar, com acanhamento na voz meiga:
- Pra onde está levando a gente?
O menino celestial olhou-a sorrindo e informou:
- Antes de mais nada vocês vão conhecer o Nosso Palácio e o Nosso Rei.
- Quem é Ele? – Arriscou Marta.
- É o Grande e Bondoso Anjo que nos governa. Nós O chamamos de Pai. É Ele quem nos ensina as virtudes sublimes e os sentimentos puros e nobres, pra que possamos sentir a verdadeira felicidade e também transmiti-la aos outros. Ele é maravilhoso, vocês vão ver. E depois de conversarem com Ele, certamente poderão brincar conosco no nosso jardim angelical.
As meninas estavam ansiosas pra conhecer aquele Ser tão Bondoso de quem o anjinho falava tão bem.
Continuaram andando em silêncio ao lado do menino.
Logo estariam diante Dele. – Pensavam ansiosas.
De repente Giselle ouviu uma voz chamando por ela, docemente:
- Giselle!...Giselle!... Está na hora, querida! Acorde!... Esqueceu o piquenique que combinamos pra hoje no parque da cidade?
- Quem está falando, anjinho? É Ele, o Pai? – Perguntou meio sonolenta ainda, vendo diante de si o anjinho sorridente.
- Sou eu, querida!... O papai!... Levante!... O sol já está lindo lá fora e já são 8 horas.
Giselle acabou de acordar assustada e deparou com o sorriso do pai. E, apesar de amar tanto aquele sorriso, sentiu-se desiludida.
- Cadê a Martinha, pai? – Indagou aborrecida, lembrando tudo o que viram juntas.
- Já deve estar chegando. Seu irmão foi chamá-la. Vamos, coragem!... Levante-se, meu bem! Hoje é domingo, dia de muita alegria. – Animou o pai, puxando a cortina pra que o sol pudesse entrar.
- Puxa, não cheguei a conhecer Ele... – Reclamou pra si mesma.
- O que disse, filha?
- Nada não, papai!... Nada não...
- Então levante logo, garotinha! Já estamos todos prontos. Lá no parque da cidade tem lindas flores coloridas e perfumadas, muitas casinhas pra vocês brincarem de boneca e muitas outras crianças também. Você e Martinha vão poder se juntar a elas. Tem músicas lindíssimas tocando o tempo todo. É um lugar maravilhoso. Um verdadeiro paraíso encantado, como vocês jamais viram. Vão se divertir muito, tenho certeza!
_ Eu sei, pai... Nós conhecemos o parque. Mas não vamos nos divertir mais do que já nos divertimos esta noite.
- E por que não? Nunca tire conclusões precipitadas. Experimente primeiro pra poder afirmar alguma coisa, filha. Vamos, levante logo, querida! – E saiu do quartinho rosa, deixando a menina pensativa:
- Será?!...
E mais outro:
APRENDENDO UMA LIÇÃO
O táxi parou bem na porta.
- Você veio mesmo, Claudinho?... Confesso que cheguei a duvidar quando ligou dizendo que viria.
- Parece que você me conhece pouco, titia. Eu adoro roça! – Respondeu secamente o arrogante sobrinho de dona Emília.
- Então vamos esquecer e seja bem-vindo. Dá cá um abraço e um beijo, que a titia está morrendo de saudade!
- Eu também estou com saudade de você. Desde que veio pra roça, não quis mais saber da cidade, da civilização... – Criticou o menino com antipatia.
- Mas sei exatamente o que acontece no mundo todo, meu bem. Assisto os noticiários da TV e estou conectada à internet todos os dias. Pensa que me isolei do mundo? Pois está muito enganado, seu espertinho!... Continuo civilizada do mesmo jeito. – Brincou a simpática e paciente dona Emília, fingindo não perceber o mau humor do menino.
- Ta bom, tia!... Cadê o “Tião pé no chão”?
- Não o chame assim, querido!
- Tia, mas ele nunca anda calçado!...
- Ele deve estar roçando lá pelas bandas do riacho.
- Eu vou até lá.
- Pode ir, mas antes calce uma bota. Tem algumas na tulha.
Claudinho iria passar uma semana de suas férias com a tia. Estava transbordando de alegria, embora não demonstrasse, e ansioso pra aprontar tudo o que desse tempo. Coisas de meninos de 10 anos!
Entrou na organizada tulha e escolheu uma bota de borracha que dava nos seus pés. Tinha bota de todo jeito e tamanho, pra servirem aos empregados e aos visitantes.
- Que exagero!... – Pensou o menino criticando a tia.
Enfiou os pés na bota que escolheu e saiu correndo rumo ao pequeno rio que corria na parte mais baixa do sítio. Do alto pôde ver o caseiro Tião roçando lá embaixo e gritou:
- “Tião pé no chão”, cheguei!... – E numa carreira quase perigosa, desceu o barranco.
- Cuidado pra num trupicar, garoto!
Claudinho chegou esbaforido, botando fogo pelas ventas. Nem conseguia respirar direito. Também!... Vivia na frente do computador! Que preparo físico poderia ter? Nenhum, é claro!
- Oi, “pé no chão”, tudo... bem... com você? – Com a respiração ofegante, mal podia falar.
- Cum eu ta tudo certim e cum ocê, ta tudo bem tomém?
- Neste... exato momento... não! Nem... con...sigo res...pi...rar...
- Ocê pricisa é de trabaiá pra ficá forte!
O menino sentou na beira do rio e descansou. Depois de alguns minutos tinha recuperado o fôlego.
- Intão ocê vei mermo, hein, Craudinho?!... Nois achemo que num vinha era nada!
- Tião pé no chão, não é Craudinho. É Claudinho!
- Só vô aprendê seu nome certo, se ocê pará de me chamá de Tião pé no chão. Ocê já sabe que num gosto. – Resmungou.
- Mas você não passa disso, cara! Não é nada na vida. Um João Ninguém. Um pobre coitado que não sabe nem falar. – Respondeu sem a menor piedade.
- E pruquê ocê num me insina, no lugá de ficá me criticano?
- Vê lá se vou perder o meu precioso tempo com um babaca como você! Era só o que me faltava!...
O humilde Tião nada mais disse, em respeito à patroa, a tia do garoto malcriado.
- Vamos lá, pé no chão? Pare com essa foice aí e vamos andar na mata comigo. Quero pegar algumas bromélias pra titia.
- Ocê sabe que num se deve pegá as prantinhas da mata.
- Ah, deixe de ser moralista e vamos logo, cara!
Tião jogou a foice nas costas e o seguiu de má vontade.
- Qui mininu besta, credo sô!... – Pensou o pobre Tião.
E lá foram eles mata adentro. O caseiro na frente.
O terreno era muito íngreme, acidentado e muito perigoso.
De repente Claudinho esticou o braço na tentativa de pegar uma bromélia vermelha maravilhosa e se desequilibrou, despencando no barranco.
- Aaaaaaiii!...
- Vige Santa!... Lá se foi o mininu, gente!...
Tião ficou paralisado olhando o garoto rolar pelo barranco, batendo nos galhos e troncos das árvores, nas pedras, arranhando-se todo nos arranha-gatos, até cair no rio que passava lá embaixo. Jogou a foice no chão e desceu o morro sem nenhum cuidado. Quase caiu também, mas como já era acostumado com os perigos da mata, conseguiu chegar sem se machucar.
O menino estava desmaiado dentro da água. Se o rapaz não acudisse rápido morreria afogado.
Tião pegou Claudinho e o colocou no chão sobre a relva. Sacudiu-o com força, pois não sabia o que fazer e fez o que veio na cabeça.
O menino começou a vomitar água pura. Em seguida se pôs a tossir. Tião batia nas costas dele.
- Cráudio, ocê tá bem?... Fala arguma coisa, home de Deus!...
Claudinho abriu os olhos e desandou numa choradeira que parecia não ter fim.
Felizmente não se machucou seriamente. Sofreu apenas alguns arranhões e nada grave.
Tião o ajudou a voltar pra casa, com todo o cuidado. Claudinho ficou em silêncio, só observando a atitude nobre e solidária do rapaz que sempre esnobou. Que sempre tratou tão mal, sem o menor respeito. Sentiu muita vergonha.
Os dias foram passando e o menino procurou ser agradável com todos.
A tia logo percebeu a mudança e ficou feliz, porque não queria que o sobrinho que ela amava tanto continuasse antipático e desrespeitando o pobre Tião.
Quando chegou o dia de Claudinho voltar pra cidade, pensou numa coisa que, certamente, agradaria ao Tião e também à sua tia.
- Tião. Você quer mesmo aprender a falar e escrever direito?
- Craro, mininu de Deus!... É tudo o que mais quero na vida!... – Respondeu surpreso e meio desconfiado. – Num tá brincano não, né?!...
- Claro que não! Nunca falei tão sério, Tião. – Disse o garoto com toda a sinceridade.
- Gente, num tô nem acriditano que vô aprendê a falá... Ocê vai me dá aula de... de que mermo?
- Aulas de português.
- Puxa, Cráudio!... Ocê vai mermo me insiná a falá certim, que nem ocês?!...
- Não só falar certo, mas escrever também.
- Meu Deus!... Será qui dô conta?... E se eu trupicá nas letra e acabá caínu?... – Riu o rapaz todo feliz.
- Se você tropeçar e cair, eu te ajudo a se levantar, como você fez comigo. Rsrsrsrs.....
A partir desse dia, Claudinho passou a tratar com respeito todas as pessoas, mas principalmente o amigo Tião.
E vamos a mais um do mesmo livro:
O ERRO DE PEDRINHO
- Pedrinho, está na hora de tomar banho pra dormir. Termine logo com isso! - Disse a mãe aborrecida com o menino de sete anos que não saía do computador. Se deixasse, ele virava a noite naqueles joguinhos causadores de dependência.
- Já tô indo, mãe!... Calma.
Depois de 15 minutos, finalmente encerrou o tal jogo e foi pro banheiro.
- Vê se esfrega direito as orelhas!
- Tá bom!... - Respondeu, entediado e chateado por ter parado a brincadeira.
Tomou banho o mais rápido que pôde e voltou pro quarto. Encontrou a cama pronta pra deitar.
- Pedro, eu só arrumei a cama hoje, hein!... A partir de amanhã você vai fazer isso sozinho. Já tem idade suficiente.
O menino era muito desobediente e malcriado.
- Como a mamãe é chata, credo! Tenho até vontade de sair de casa e sumir no mundo pra nunca mais voltar!
Estava tão aborrecido que até se esqueceu de rezar antes de deitar.
Dormiu rápido porque estava muito cansado de tanto ficar sentado na frente do computador e com os olhos fixos naquele insuportável jogo. Era assim que a mãe dele pensava todos os dias, mas não sabia o que fazer pra acabar com o vício do pequeno Pedro. Não podia desfazer do computador porque ele é realmente indispensável nos dias de hoje. Então, o que fazer? - Pensava a jovem e inexperiente mãe.
Era de manhã bem cedinho e o sol já começava a aparecer fraquinho.
Pedro decidiu que fugiria como tinha pensado na noite anterior.
- Fugir de casa com este dia lindo vai ser moleza!
Pegou a mochila escolar, tirou tudo de dentro e colocou nela algumas roupas, biscoitos, frutas e o celular. Enfim, tudo o que considerou importante pra uma fuga.
Jogou a mochila nas costas, amarrou as tiras de segurança na cintura, colocou os óculos escuros e saiu, fechando a porta com cuidado pra não fazer barulho.
- Nossa!... Esta mochila ficou “pesadaça”!
A cidade ainda dormia. Nas ruas só viu os silenciosos catadores de lixo. Correu em direção à saída da pequena cidade. Pegou a estrada e não olhou pra trás.
Andava a passos largos, ansioso por sair dali antes que algum conhecido o visse.
Quando já estava bem longe da cidade, um carro parou e ofereceu carona. E ele ficou aliviado, porque não aguentava mais de tão cansado.
- Ufa!... Até que enfim alguém parou. Minhas pernas, meus pés, minhas costas... Tá doendo tudo! - Pensou.
- Oi, garoto, quer uma carona? - O motorista era um rapaz estranho e de olhar faiscante. Ao seu lado um senhor de idade, também muito esquisito. Mas Pedro nem percebeu.
- Claro! Obrigado. - Foi logo aceitando, doido pra sentar. Entrou e se acomodou no macio banco traseiro.
- Aonde pensa que vai? - Perguntou o velho, sem olhar pra trás.
- Ah, pra qualquer lugar do mundo que não seja a minha casa!
- Então você teve sorte, porque nós também vamos pra lá. Kkkkkkkkkk! - Respondeu o motorista, dando uma gargalhada muito sinistra. Pedrinho ficou arrepiado e começou a sentir medo.
- Acho melhor eu voltar pra casa. Lembrei que preciso fazer o dever de casa e...
- Voltar?!... Agora não dá mais, moleque! - Disse o velho.
- Vai ter de enfrentar a sua decisão! - Completou o rapaz, rindo.
Pedro ficou mudo e assustado. Estava nas mãos daqueles monstros horríveis.
E realmente se transformaram em monstros horríveis, ali, na frente do pobre Pedrinho.
O menino arregalou os olhos diante do que via. Dois homens enormes, com cabeça de leão, que mal cabiam no carro. Rugiam ameaçadoramente, apavorando ainda mais o garoto. Pedro olhou pelo vidro da janela e viu uma borboleta enorme, voando no céu.
De repente o carro capotou e Pedrinho foi jogado pra fora e pro alto. A borboleta se colocou por baixo dele e o amparou. O menino estava atordoado e sem entender nada. O que estava acontecendo ali?
A enorme borboleta pousou no chão e ele desceu meio tonto ainda. Procurou o carro com os olhos, mas não o viu. Tinha desaparecido.
- O que está acontecendo, gente?!... - Perguntou olhando pra borboleta. Esta virou uma bruxa, num piscar de olhos e respondeu:
- Foi você mesmo que desejou viver assim, quando resolveu fugir do seu doce lar, onde só tem pessoas que te amam. Agora aguenta, meu jovem!... Kkkkkkkkkkkkkk!...
- Mas eu só queria sair de casa e viver sozinho no mundo! - Choramingou o assustado Pedrinho.
- Ninguém pode viver sozinho no mundo, seu bobo!... Kkkkkkkkkkkk!... - Dizendo isto, a bruxa explodiu no meio de uma fumaça preta com um cheiro horrível e desapareceu.
Pedrinho quis voltar pra casa, mas já não sabia mais o caminho de volta. Estava totalmente perdido.
Escolheu um lado qualquer da estrada e começou a correr.
A estrada era reta e parecia sem fim.
Continuou correndo e olhando pra frente.
E assim avistou um pontinho escuro lá longe, vindo em sua direção. Não conseguiu saber o que era e continuou correndo. Talvez fossem pessoas que poderiam ajudá-lo a sair daquela enrascada.
O pontinho escuro foi crescendo... crescendo...
Aí Pedrinho pôde ver o que era e parou de repente.
Correndo em sua direção, vinha uma quantidade enorme de seres estranhos e pequenos.
Eles tinham corpo de gente e no alto da cabeça um grande chifre que brilhava na ponta, mais parecido com uma antena. Só podiam ser ETs.
Ele não parou pra perguntar. Pulou no barranco da estrada e saiu rolando morro abaixo. Lá embaixo tinha um rio de fortes correntezas. E na velocidade que rolava, caiu no rio e foi levado pelas águas furiosas.
Não conseguia nadar. Afundava e voltava à tona, até que um tronco de árvore apareceu e ele não perdeu tempo: se agarrou nele.
Sentiu um grande alívio porque podia respirar agora. Mas foi só recuperar o fôlego e se deparou com outro problema. Bem na sua frente, as águas do grande rio desciam numa altíssima cachoeira e ele só teve tempo de se apertar no tronco e fechar os olhos. Despencou com as águas e o tronco. Sentiu falta de ar e pensou que o coração ia sair do peito. Descia numa velocidade assustadora. Não aguentou e desmaiou.
Acordou muito fraco, abriu os olhos e só viu o céu. Estava deitado numa grande pedra, de barriga pra cima, todo molhado e com uma dor forte nas costas. Era por causa da mochila, que continuava presa no seu corpo. O grande silêncio do lugar incomodou o garoto e com os olhos procurou a cachoeira, mas não viu.
- Onde estou, afinal? Cadê o rio? E a cachoeira, onde está? Sei que eu estava no rio e que caí na cachoeira...
Mas antes que pudesse imaginar o que tinha acontecido, alguma coisa, que ele não podia entender, aconteceu de novo.
O lugar escuro e feio onde se encontrava naquele momento, transformou-se num verdadeiro paraíso.
Sentou e olhou em volta.
Deu um suspiro e, finalmente, conseguiu sorrir pela primeira vez desde que tinha saído de casa.
Era um grande, colorido e perfumado jardim.
Sentiu fome e tirou a mochila das costas. Pegou uma maçã e mordeu com força. Em seguida pegou o celular.
- Vou ligar pra mamãe. Aí ela vem me buscar e pronto.
Ligou e nada. O aparelhinho tinha molhado nas águas do rio e não prestava pra mais nada. Pobre Pedrinho!... Estava mesmo numa grande enrascada.
Muito triste, levantou e começou a andar entre os canteiros do jardim.
Estava cheirando uma rosa branca, quando alguém o chamou com doce voz:
- Ei, o que está fazendo aqui?
Ligou e nada. O aparelhinho tinha molhado nas águas do rio e não prestava pra mais nada. Pobre Pedrinho!... Estava mesmo numa grande enrascada.
Muito triste, levantou e começou a andar entre os canteiros do jardim.
Estava cheirando uma rosa branca, quando alguém o chamou com doce voz:
- Ei, o que está fazendo aqui?
O menino se virou assustado e deparou com uma menina linda de uns 20 centímetros de altura, flutuando no ar. Estava com um vestido rosa de rendinhas finas, longos cabelos loiros, duas rosas penduradas pela mão e tinha transparentes asinhas rosa forte.
- Você é uma borboleta ou uma fada? - Perguntou o admirado Pedrinho, não acreditando no que via.
- Uma fada, é claro! Não está vendo? - E fez pose de grande dama.
- Se você é uma fada, pode me ajudar a voltar pra casa agora! - Animou-se.
- Infelizmente não posso fazer isso por você.
- Por quê? Você é uma fada. E as fadas podem tudo.
- Mas o que está vivendo, foi você que desejou e vai ter de viver, enquanto não se arrepender de verdade.
- Tá bom!... Eu me arrependo!
- Assim não vale. Tem de se arrepender com o coração e não da boca pra fora.
Pedrinho ficou pensativo. Como era se arrepender de coração?
Distraiu-se pensando nisso e quando virou pra falar com a fadinha, ela já não estava mais ali. Procurou e nada. Estava novamente sozinho.
Sentou no chão e comeu mais uma maçã, uma banana e uma pera. Agora estava de barriga cheia e pronto pra encontrar a volta.
Levantou e começou a andar por um estreito caminho que levava para fora daquele belo jardim.
Já tinha andado um tempão quando ouviu um barulho estranho e parou. Viu uma grande pedra e correu pra trás dela.
Quase não respirava, pra não fazer barulho. Sentia tanto medo que desejou estar nos braços da mãe.
De repente, viu várias árvores da mata à sua frente, caindo em fila, como se um trator tivesse passando ali naquele instante.
Ouviu um som que nunca tinha ouvido antes e estremeceu. Em seguida, apareceu um gigantesco dinossauro, cheirando tudo que via pela frente. Veio na sua direção e ele sentiu um frio percorrer o corpo.
O grande animal pré-histórico bateu a pata dianteira na pedra que o protegia, jogando-a longe. Pedro ficou ali, como uma estátua, paralisado pelo medo e totalmente a mercê do furioso animal.
O dinossauro, que era um tiranossauro rex, viu o menino e atacou. Abriu a enorme e assustadora boca e abocanhou o pobre Pedrinho.
O menino se viu descendo pela garganta do bicho e sentiu a morte chegar. Mais uma vez, lembrou a mãe.
O garoto caiu num lugar escuro, molhado e quente. Era o estômago do dinossauro.
Quando Pedrinho pensou que estava perdido, caiu de uma altura de 3 metros mais ou menos. A sorte é que caiu bem em cima de um monte de areia e não se machucou.
O dinossauro sumiu e ele ficou ali sobre o monte de areia, sem nada entender.
- Mas esta areia está na frente da minha casa! É a areia que a mamãe comprou pra reformar o meu quarto!... - Gritou Pedrinho feliz e aliviado.
Correu pra dentro de casa e não parou pra dar explicações. Foi direto pro seu quarto, pensando em fingir que estava dormindo, porque percebeu que continuava bem cedinho ainda e todos dormiam.
Enfiou-se embaixo do cobertor azul e fechou os olhos.
Mas começou a ouvir um barulho dentro do quarto e, intrigado, abriu os olhos.
Todos os seus brinquedos vinham em sua direção, como se estivessem vivos.
Carrinhos, super-heróis de plástico, bola de futebol, skate, patins, espada de pirada e muitos outros. Eles tinham carinhas e olhavam pro menino com olhar de ódio.
- Meu Deus, até os meus brinquedos me odeiam porque fugi!
Eles se aproximavam rapidamente e Pedrinho tentou pular da cama, mas não conseguiu. Estava preso nela por grossas correntes.
- O que foi que eu fiz?!... Por que fugi como um idiota?!... O meu lugar é aqui, com a minha família. Não podia fazer mais nada, além de gritar e não perdeu tempo.
- Mãaaaeeeeee!... Socorrooooo!...
A mãe entrou no quarto correndo e acudiu o desesperado filho.
- Calma, filho!... Eu estou aqui!... O que aconteceu, querido? - Ela o abraçou, tentando acalmá-lo com muito carinho.
- Me salva desses monstros horríveis, mãe!... E me perdoa!... Eu juro que não fujo mais de casa! Esta foi a primeira e a última vez que fiz isso. Eu juro! Mãe, eu te amo!... Não me deixe sozinho, por favor!...
- Calma, filho! Você não fugiu de casa, não, querido. Só teve um pesadelo. - Esclareceu ela, morrendo de rir dele. E concluiu:
- Quer dizer que pensou em fugir de casa, hein?!... Que coisa feia, Pedrinho!
E aqui estão mais dois textos do mesmo livro, para vocês!
O ARCO-ÍRIS MÁGICO
Um passarinho todo colorido passou voando perto de uma árvore cheia de outros passarinhos comuns.
Quando eles o viram ficaram admirados:
- Como você é lindo!
Ele pousou na árvore e respondeu feliz:
- Eu passei pelo arco-íris mágico e fiquei com todas as cores dele.
- Posso contar quantas cores são? - Pediu um Canarinho que não sabia quais as cores do arco-íris e nem sabia contar direito porque era muito novinho ainda.
- Pode contar à vontade! - Respondeu o passarinho Colorido todo vaidoso de sua beleza.
- Então vou contar do meu jeito, tá, gente?
O Canarinho olhou atento pras peninhas do outro e começou a contar nos dedinhos dos pés:
- Vermelho...1, laranja...2, amarelo...3, verde...4, azul claro...5, azul escuro...6, violeta...7. Então são sete as cores do arco-íris?!...Que cores lindas! E são dois tons de azul, que legal!- Admirou-se.
- Vai me dizer que você não sabia disso, Canarinho?... Fala sério!... - Criticou a Sabiá, que se achava muito sábia.
- Ninguém nasce sabendo, né? Eu acabei de aprender e não vou mais esquecer. Dá licença, dona-sabe-tudo?!... - Aborreceu-se o Canarinho que era meio ranzinza.
- Nós também queremos ser iguais a você. Leva a gente lá? - Pediu o Pica-pau.
- Só que é muito longe, pessoal.
- Não tem problema, nós vamos assim mesmo. - Adiantou-se a Andorinha.
- Pra isso é que temos asas! - Completou o delicado Beija-flor.
- Então vamos lá, galera!- Concordou cheio de entusiasmo o passarinho Colorido.
Voaram e voaram...
O pequeno Tico-tico, já cansado de bater as asinhas, perguntou quase sem voz:
- Ainda está muito longe?
- Não, estamos quase chegando. - Respondeu o guia.
Logo avistaram uma pequena floresta bem longe.
- Olhem, estamos chegando! Vejam o Oásis. - Mostrou o passarinho Colorido.
- Por que Oásis se aqui não é deserto? - Quis saber o curioso Bem-te-vi.
- Assim é chamada essa floresta por causa de sua grande beleza e por estar perdida em uma área de vegetação baixa, rasteira. - Explicou o amigo Colorido.
Enquanto conversavam iam se aproximando cada vez mais daquele lugar tão lindo.
Eram tantos os passarinhos que parecia uma nuvem multicor deslizando no céu azul.
Quando chegaram mais perto, viram o arco-íris mágico cobrindo as árvores com seu corpo curvo e mergulhando tranquilo nas águas cristalinas de uma espumante cachoeira.
- Que maravilha! - Exclamaram todos juntos.
O passarinho Colorido falou bem alto pra que todos o ouvissem:
- Quando a gente chegar lá é só mergulhar nas suas cores, fechar os olhos e sentir a magia acontecer, está bem?
E assim fizeram.
Mergulharam todos juntos naquela faixa curva e colorida. Eles sentiram no corpo inteiro um frescor gostoso e uma leveza tão grande nas asinhas que até batiam com mais rapidez.
E quando saíram do outro lado do arco-íris, estavam todos iguais ao passarinho Colorido.
Sentiram uma felicidade tão completa que começaram a cantar sem parar um canto sonoro e lindo. Um canto tão colorido quanto suas peninhas.
Voltaram alegres pra casa.
Chegando à pracinha, onde sempre se encontravam pra conversar, cantar e comer as migalhinhas de pão e biscoito que as crianças deixavam cair, pousaram numa só árvore.
As crianças logo gritaram admiradas com tanta beleza:
- Olhem os passarinhos coloridos, que lindos!
Os passarinhos ficaram tão surpresos com a recepção calorosa que pousaram cantando nos ombros das crianças sem nenhum medo delas.
O arco-íris mágico tinha o poder de dar cor aos passarinhos e também segurança, alegria e felicidade. E todas as crianças que eles tocavam, sentiam a mesma sensação.
E assim a cidade dos passarinhos coloridos ficou famosa e virou ponto turístico.
Pessoas do mundo inteiro queriam conhecer e sentir o poder mágico que tinha transformado aquela desconhecida cidadezinha em uma cidade linda, harmoniosa e especial.
O RELÂMPAGO MAROTO
Lúcia, uma garotinha de quatro anos, foi à cidade com a mãe, a avó e a tia.
Era véspera de Natal e queria comprar os presentes pra colocar ao pé da sua linda árvore montada na sala.
Só o tio Paulo ficou em casa descansando.
Moravam num lindo sítio.
Quando já estavam voltando, começou a chover muito forte.
De repente, um relâmpago cortou o céu cinzento em linha reta, sucedido por um estrondoso trovão.
Lucinha gritou assustada dentro do carro.
- Lu, não tenha medo. Dentro do carro não há perigo, querida! - Explicou a mãe, querendo acalmá-la.
E a garotinha, sempre preocupada com tudo, pensou logo na casa.
- Tia Gi, será que o tio Paulo tirou os aparelhos das tomadas?
Ela se referia aos aparelhos eletrodomésticos. É necessário desligar tudo pra não haver o risco de danificar os aparelhos, por causa da descarga elétrica dos relâmpagos que são muito fortes nas regiões rurais e porque na casa não tinha para-raios.
- Tia Gi, será que o tio...
- Eu já ouvi, amor!...O tio Paulo deve ter tirado sim, fique tranquila!
Foram apenas três relâmpagos e seus assustadores estrondos e logo tudo voltou ao normal. Até o sol aventurou um sorriso tímido.
Mal a vovó parou o carro na porta da cozinha, a pequena Lúcia saltou correndo e gritando:
- Tio Paulo!... Tio Paulo!...
O tio apareceu na porta pra recebê-las com o mesmo sorriso simpático de sempre.
- Voltaram rápido, hein!...
- Tio, você tirou as tomadas das tomadas?
- Como assim, Lucinha?!...
- Ela quer saber se você desligou a geladeira, a televisão, etc...etc... - Socorreu a tia da excitada garotinha.
- Ah, entendi. Só que quando corri era tarde demais, o mal já tinha acontecido. O primeiro raio veio tão de repente que não tive nem tempo de desligar os aparelhos. Eu estava almoçando quando ouvi um estalo forte acima da minha cabeça. Naquele instante pensei que tivesse estourado a lâmpada, mas logo vi que não era isso. Acho que queimou o micro-ondas da sua mãe, Lu. Mas o que me surpreendeu mesmo foi outra coisa. Uma coisa incrível, Lucinha! Logo depois do relâmpago, ouvi uma musiquinha suave de Natal. Não entendi nada, porque eu estava sozinho em casa.
Fui até seu quarto, de onde vinha o som e sabe o que aconteceu?...
- Fala logo, tio!...- A garotinha de longos cachinhos castanhos caídos nos ombros estava agitada pela curiosidade.
- A descarga elétrica do relâmpago ligou a caixinha de música do seu ursinho de pelúcia. Não é incrível?!...
Ela olhou com ar de piedade pro tio e comentou cheia de convicção:
- Tio, você está delirando!... Não foi nada disso, não! Sabe o que aconteceu de verdade? Você estava sozinho, assustado e morrendo de medo, que Deus pensou:
-“ Bem, como já está perto do Natal”...
- Aí Ele fez o meu ursinho tocar aquela musiquinha pra acalmar você, seu bobo! -E pensou crítica: - Ai, gente grande é tão complicada!...
Se já leram, tem mais 2 do mesmo livro:
AS FORMIGAS CORTADEIRAS
Sou pequenininha, mas sei muito bem o que é certo e o que é errado na vida!
Papai, mamãe, vovó, titio, titia... Todo mundo que é grande diz que eu não sei nada.
É o que eles pensam!
Fui passar um fim de semana no sítio da vovó. Eu adoro ir lá! É tão divertido!...
Tem jardim florido, tem árvores grandes pra gente subir, tem até tanque de peixinhos japoneses. Eles não têm os olhinhos puxados, mas o titio disse que são japoneses. Não acredito, mas deixe pra lá!... Os adultos sempre acham que sabem mais do que a gente mesmo.
Justo naquela vez que fui lá, eu descobri uma fila enorme de formigas cortadeiras. As conhecidas saúvas e quenquéns. Conhecidas dos adultos, claro! Foi a vovó que me disse os nomes delas.
Bem, os nomes não importam tanto. Vamos falar delas. Das cortadeiras.
Não sei o porquê, mas a vovó odeia as pobrezinhas. Tão lindas e esforçadas.
A vovó diz que é porque as formigas cortam as plantinhas do jardim dela pra fazer ninho no fundo do formigueiro.
Eu até entendo a minha avó. Planta é coisa muito séria. Não é pra ser destruída assim, sem permissão.
A verdade é que fiquei meio confusa com o que vi naquele fim de semana, sobre as tais formigas.
Imaginem que as pobrezinhas percorrem quase o sítio todo, dando voltas pelo mato, pelas pedras, pela terra, pela areia... Em qualquer lugar, carregando folhas enormes na cabeça! Na verdade, elas prendem no ferrão aquilo que querem carregar e jogam pra trás, sobre a cabeça... E vão que vão!
Não adianta ninguém atrapalhar o trabalho delas, porque elas começam tudo de novo. Nunca desistem. Dizem que elas conseguem carregar um peso muito maior do que o próprio peso. Achei isso muito estranho e difícil. Eu não consigo carregar alguma coisa mais pesada do que eu, tenho certeza!
Aí eu me pergunto: - Será que elas são inteligentes, trabalhadeiras e persistentes como dizem os adultos?... Ou burrinhas, mecanizadas, robôs teleguiados, como demonstram?...
Tenho minhas dúvidas, sabem?
Incrível como os bichinhos dão voltas quilométricas e enfrentam qualquer obstáculo pra levarem aquela carga pesada até o formigueiro. Sem falar que elas trabalham 24 horas por dia. Nunca dormem. Nunca brincam. Nunca passeiam. A vida delas se resume em trabalho.
Tudo pra agradar a rainha delas, que só fica na boa, esperando tudo nas mãos, a folgada! Até entre as formigas existe egoísmo, que coisa louca!...
É de cortar o coração de qualquer um. Fiquei morrendo de peninha das operárias. Operárias são aquelas que trabalham pra cara de pau da rainha!
As formigas me deixaram muito confusa e pensativa. Até tive pesadelo por causa do sofrimento delas, coitadas!... Na verdade, não tenho certeza se elas sofrem, mas é o que parece.
Por que elas não agem como as pessoas?
Pra que serem tão sérias no que fazem?
Acho que não se deve só trabalhar. Todo mundo precisa brincar, passear, se divertir muito, descansar... Concordam comigo? Estou aqui pensando... e.... querem saber? Eu não queria nunca ser uma formiga cortadeira!
As coitadas são escravas do trabalho, enquanto a rainha delas só fica no bem bom, curtindo a vida... Eu acho.
O pior é que o trabalho sério delas é destruir as plantas dos outros. Tem alguma coisa errada aí... Eu acho.
Enquanto elas trabalham com responsabilidade, as pessoas ficam atrás delas, doidinhas pra matá-las sem piedade, colocando na frente delas aqueles granuladinhos venenosos pra elas carregarem na cabeça, na maior inocência.
Sou pequenininha, mas já sei ler. E ao ver a caixa das iscas formicidas (são os granuladinhos), quase nem acreditei...
É uma caixinha macabra.
Li tudo sobre o devastador veneno. Tudo escrito na caixa inteira. Fala de como o veneno é eficaz e ensina a gente como matar as coitadinhas. Tem até uma fila de inocentes formiguinhas desenhadas em volta de toda a caixinha, carregando os granuladinhos. Que maldade! Quase chorei...
Fiquei toda arrepiada e joguei a caixa no lixo, rapidinho. Como as pessoas podem fazer uma coisa dessas com tanta frieza?!...
E os bichinhos caiem que nem patinhos.
Que patético!... Não consigo entender.
Meu Deus, como as formiguinhas são inocentes e puras!...
Os adultos dizem que elas são muito inteligentes... Tenho minhas dúvidas!
Bem... Na verdade, eu acho que elas são bobinhas.
Lá isso é vida?!... Tô fora!
O CACHORRO E A PERNA DE BOI
Eu sou a Bárbara. Quando vou à casa da vovó, lá na roça, fico muito feliz. Lá eu subo nas árvores com a ajuda dos meus priminhos, corro pelos pastos atrás deles, fico olhando as crianças maiores subirem as colinas, vou ao rio admirar os peixinhos com os meus primos mais velhos, tiro fotos de tudo o que vejo na minha frente e ajudo a vovó a cuidar do jardim, porque eu amo as plantas. Na verdade, eu adoro toda a natureza!
Outro dia, minha avó veio à cidade fazer compras e a mamãe deixou ela me levar pra passar o restinho do sábado e o domingo inteirinho com ela.
Chegamos e eu ajudei a vovó a guardar as compras. Eu tirava as coisas das sacolas, entregava a ela e ela colocava no armário da cozinha e na geladeira.
Depois fomos cuidar das plantas. A vovó foi logo plantar uma muda de árvore na frente da casa e eu fiquei arrancando as plantas velhas de um canteiro pra replantar. Eu fico com peninha das plantinhas velhinhas, mas a vovó disse que é assim mesmo que se faz pra que elas fiquem lindas de novo.
Sentei na beirada do canteiro e comecei o meu serviço, bem distraidamente.
Eu estava no mundo da lua, só arrancando plantinhas quando percebi que alguma coisa passava na estrada, bem do meu lado. Olhei e o que vi quase me matou de susto e medo. Foi uma cena horrível.
Acreditam que um cachorro enorme passou correndo por mim com uma perna de boi também enorme e inteirinha atravessada na boca?!...
Até parece mentira minha, mas não é não, gente! É a pura verdade. Eu nunca tinha visto uma cena daquelas na minha vida. Foi horrível mesmo, juro!
Vocês podem imaginar um cachorro carregando na boca a perna de um pobre boi?... Eu sei que é difícil imaginar. Eu entendo vocês. Mas eu não imaginei, eu vi.
Parei de limpar o canteiro e fiquei pensando, ali sentada... De quem seria aquela perna? E quem seria o malvado que arrancou a perna do coitado do boi? Como o pobrezinho ia andar agora, sem uma das pernas? Ia mancar pro resto da vida, coitado! Não consigo entender porque as pessoas têm coragem de tirar um pedaço tão importante do corpo de um animal.
Todo mundo sabe que os bois precisam de quatro pernas pra andar. Então, por que fazem isso?
Os adultos não deixam a gente assistir filmes de terror, mas deixam a gente ver uma cena horrível dessas. Não consigo entender os adultos, juro!
Se eu pudesse, eu levava uma nova perna pra aquele boi. Mas não tenho uma perna de boi guardada e nem sei onde mora o pobrezinho.
Coitadinho!...
Puxa, se eu fosse grande não deixava ninguém fazer isso! É muita maldade, gente!
Eu acho que Deus fica só anotando os nomes das pessoas que fazem maldades assim pra depois cobrar delas... Eu acho mesmo que Ele faz isso.
Depois que voltei pra casa, no domingo à noite, fiquei tentando descobrir o que realmente aconteceu com aquele infeliz boi que devia estar sofrendo muito.
Pensei... Pensei... E acabei concluindo que só pode ter sido uma história de vingança.
É!... Aquele cachorro é um bichinho muito chato que adora ficar latindo e mordendo os outros. É do vizinho. Eu conheço ele. Muito chato mesmo.
Com certeza ele chateou tanto o boi, que o boi deu um coice e uma chifrada nele. Ele ficou com raiva e pensou em vingança.
- Aquele bobo! Pra que vingança, gente?!... Que bobagem!
Eu acho que o cachorro aproveitou que o boi estava dormindo tranquilo e arrancou a perna dele com uma dentada e saiu correndo. O boi nem teve tempo de pegar a perna de volta.
Por isso é que o cachorro passou correndo por mim, lá no jardim da vovó, com a perna do outro na boca.
O boi deve ter corrido um pouco atrás dele, mas só um pouco, porque com três pernas não conseguiu correr muito igual ao cachorro e voltou triste pro curral. Curral é a casa dos bois, gente!
Eu não quero ver um animalzinho inocente sem perna, sem rabo, sem cabeça. Isso é horrível.
Mais horrível ainda foi o que a minha avó me disse depois de uns dias.
Eu caí na besteira de perguntar o que ela achava sobre o cachorro ter tirado a perna do boi. Eu só queria saber se ela pensava como eu. E o que ela me respondeu foi terrível de verdade. Vou me arrepender pra sempre de ter perguntado aquilo.
Mas, coitada, ela só foi sincera e disse o que sabia! Eu fiquei muito chocada e arrasada.
Vocês acreditam que ela disse que não foi o cachorro que fez aquilo?... Ela disse que foi gente!... E que não tiraram só a perna. Tiraram o corpo inteiro. Tiraram a vida do inocente!... E sabem pra quê?... Pra cozinhar!...
Vocês sabiam que essa carninha que nós comemos no almoço é um pedaço do corpinho de um pobre e inocente boi, gente? Eu não sabia! Acho que é porque eu só tenho três aninhos, né? Ainda não tive tempo de aprender tudo sobre a vida.
Naquele dia fiquei sabendo que eu como os bois aos pedacinhos.
Que maldade, coitadinhos!...
Agora eu estou aqui pensando numa coisa... Acho que vou virar vegetariana!...
Mais 2 contos do livro infantil Crescendo&Aprendendo:
O CAÇADOR DE BORBOLETAS
Era uma vez um garoto que colecionava borboletas. Nada a ver, né gente? Por que não deixar as pobrezinhas voarem livremente pelos jardins?
Bem, a verdade é que Márcio, o colecionador de borboletas, nem gostava muito de estudar e nem brincar com os amigos, porque só queria caçar as belas voadoras. Matava as pobrezinhas com álcool, prendia todas elas com alfinetes num painel de isopor e ficava todo feliz, mostrando pra todo mundo. Certamente pensando que as pessoas gostavam daquilo.
Além de tudo ele dava um péssimo exemplo, porque as crianças menores também queriam fazer o mesmo.
Um dia Márcio foi dormir cansado de tanto caçar borboletas pelos jardins públicos. Por causa do cansaço, acabou tendo um pesadelo horrível.
Ele sonhou que estava caçando borboletas, como sempre fazia de verdade. Não conseguia ver nenhuma borboletinha.
- O que estará acontecendo? Será que elas fugiram deste mundo? – Pensou chateado.
De repente milhões de borboletas de todas as cores e de todos os tamanhos surgiram no céu.
- Meu Deus, quanta borboleta, gente!... Vou fazer a festa!... – E preparou o seu terrível “pegador de borboletas”, que é um saquinho de tecido fininho preso num cabo de madeira ou de metal. É o puçá.
Pra vocês que querem aprender tudo, o nome mais sério dessa “arma terrível” é rede entomológica, isto é, rede de pegar inseto.
Bem, voltando ao pesadelo do pequeno e insensível Márcio...
As borboletas se aproximavam rapidamente e o menino ficou bem escondido no mato, só esperando pra pegar todas que coubessem no puçá.
Quando elas já estavam bem perto dele, ele viu que cada uma delas tinha presa nos pezinhos uma linha comprida. E todas as linhas estavam amarradas entre si, nas pontas. Observem a figura abaixo.
Aí Márcio teve uma ideia que ele considerou brilhante.
- Já sei o que vou fazer! Nem vou precisar do puçá. E ainda vou levar pra minha coleção, milhares de borboletas maravilhosas. Quando elas passarem por mim vou pegar a ponta de linhas e pronto. Serão todas minhas!...
Ficou atento esperando o momento exato. Quando passavam sobre ele, as linhas quase tocaram sua cabeça. Ele esticou os braços e agarrou o feixe de linhas. Segurou firme e começou a correr com um sorriso vitorioso. Só que o sorriso vitorioso dele logo se transformou em cara de surpresa e medo, porque começou a subir no ar. Eram tantas borboletas que acabaram levando o menino com elas. E foram subindo cada vez mais alto.
Márcio ficou apavorado, olhando pra baixo.
O chão ia ficando longe, muito longe dele e as árvores iam ficando pequenas, muito pequenas.
O menino sentiu vertigem e precisou apertar bem as linhas pra não cair. Se caísse... babau Márcio!...
O coração do garoto batia tão rápido que parecia que ia explodir a qualquer momento.
Então aconteceu uma coisa maravilhosa que Márcio nunca tinha parado pra pensar. Ele começou a sentir pena das borboletas que colecionava sem dó nem piedade. Sentiu muito medo e imaginou que elas também deviam sentir quando estavam morrendo em suas mãos. Aí Márcio fez uma oração pedindo a Deus que o salvasse e prometeu que em troca nunca mais caçaria borboletas nem qualquer outro bichinho. Logo em seguida, as borboletas começaram a descer e em poucos minutos Márcio tocava os pés no chão, cheio de alívio.
Ainda no sonho, foi pra casa, queimou o puçá e agradeceu a Deus.
Acordou cedo com o canto dos passarinhos.
Lembrou tudo o que aconteceu no sonho e confirmou a promessa feita:
- A promessa que fiz foi apenas em sonho, mas vou cumpri-la de verdade, porque agora entendo que a vaidade de colecionador não me deixou raciocinar com inteligência. Não tenho o direito de tirar a vida de ninguém. Agora vou continuar amando as borboletas, mas somente admirando sua beleza e o seu poder de voar. (FIM)
O MENINO QUE QUERIA VOAR
Daniel tinha muita vontade de voar.
Ele ficava horas observando os passarinhos e morrendo de inveja deles, porque podiam voar e ele não.
Um dia, passeando numa floresta, ele encontrou uma fada boazinha. É verdade, gente!... Uma fada boazinha até demais, porque concedeu a ele o poder de voar, não igualzinho aos passarinhos que Daniel tanto invejava, mas de uma maneira um pouco diferente. A fada disse que ele poderia voar segurando balões, montado num lápis, numa caneta ou deitado numa folha de caderno.
Daniel não gostou muito, porque queria mesmo era voar com asas, igual aos passarinhos. Mas não tinha escolha.
Então a fada disse:
Daniel, você vai voar como eu disse, mas terá de aprender sozinho.
O garotinho se assustou porque não esperava por isso. Ficou meio indeciso e teve vontade de desistir, porque sentiu medo. Mas, como voar era tudo o que ele mais queria na vida, acabou aceitando assim mesmo.
A fada girou sua varinha mágica no ar e disse:
- Baracatu... Baracatá... Drindrim!
Márcio ficou olhando aquilo com cara de bobo, porque não entendeu nada.
De repente e do nada, surgiram aos seus pés, quatro balões amarrados, um lápis amarelo, uma caneta vermelha e uma folha de caderno.
Quando levantou a cabeça pra falar com a fada, ela já tinha desaparecido.
Olhou os objetos, sem saber o que fazer.
Primeiro pegou os balões. Deixou que subissem e sentiu que ele também subia. Sentiu medo de novo, mas gostou. Mas quando já estava a uns dois metros de altura, sentiu muito medo e soltou os balões. Caiu e sentiu dor nos pés.
Sentou no chão desanimado e ficou olhando os balões desaparecerem do seu campo de visão.
- Puxa!... Por que não tive coragem? Acho que ia ser tão bom!
- Vou tentar com o lápis. Acho que montado vai ser mais fácil.
Montou no grande lápis amarelo e se concentrou. Demorou um pouquinho, mas depois sentiu que estavam subindo. O lápis era liso e Daniel escorregou, quase caindo. Segurou firme e deixou subir.
Olhou pra baixo e sentiu pavor.
- Se eu cair daqui, tô ferrado!
Começou uma tremedeira tão forte que não conseguia se segurar direito. Escorregava pra lá, escorregava pra cá...
- E agora, como vou descer deste troço? Não quero mais voar neste lápis!... – Choramingou.
De repente o lápis parou no ar e foi descendo devagar até o chão. Daniel saltou e não quis mais saber do lápis.
- Bem, vou tentar a caneta. Acho que agora vai dar certo, porque posso segurar com mais firmeza. A caneta subiu no ar com Daniel e logo estavam a duzentos metros de altura. O menino se achou!... E sorriu feliz.
Mas logo depois atingiram um urubu, que voava tranquilamente. Por sorte não caiu, mas ficou pendurado na ponta da caneta. Nem teve coragem de olhar pra baixo. Só pensou em pedir à fada:
- Dona fada, quero descer!... Por favor, me ajuda!...
E a enorme caneta desceu suavemente.
- Será que devo tentar mais uma vez?!...
– Pensou o teimoso Daniel, olhando pra folha de caderno.
Decidiu que sim e deitou sobre a grande folha de caderno, segurou firme, fechou os olhos e se concentrou. Logo em seguida sentiu que subiam. Respirou, aliviado.
- Tenho certeza que agora vai dar certo. Eu vou voar como os passarinhos! – Disse confiante e sorridente.
Mas quando abriu os olhos e olhou pra baixo, perdeu o equilíbrio e quase caiu de novo.
Mesmo assim, conseguiu chegar a uns mil metros de altura. Acima das nuvens. Mas, a partir daí, o medo voltou e Daniel começou a chorar e gritar como um louco.
- Queeeeroooo desceeeer!... Socoooroooo!...
Não quero mais voar!... Juro que não quero, dona fada!... Me tira daqui... O meu lugar é no chão. Eu só quero andar, correr... Quero meus pés no chão!...
Imediatamente a folha de caderno foi descendo devagar até o chão e Daniel suspirou.
- Desisto. Não nasci pra voar. Isso é coisa de passarinho! Está certíssimo quando se diz: “cada macaco no seu galho”. Quer saber?... Cada um na sua mesmo e não se fala mais no assunto!
E voltou pra casa com a certeza de que não queria voar.
A partir desse dia Daniel não sentiu inveja dos voadores alados e até sorria quando olhava os passarinhos voando. (FIM)
Primeira historinha tirada do meu livro infantil: "Crescendo&Aprendendo". Espero que gostem!
O PEQUENO ÍCARO E O PERIGOSO ÁCARO
Ícaro era um garotinho muito atrevido, desobediente, mas muito corajoso e só tinha seis anos de idade.
Um dia Ícaro brincava de jogar as almofadas da sala pra cima, nas paredes, no chão... Uma verdadeira farra.
Sua mamãe chegou bem na hora e brava mandou que parasse com aquela brincadeira boba:
- Ícaro, eu já disse que as almofadas estão empesteadas de ácaros da poeira! E você é alérgico, esqueceu?
- Eu não esqueci, não, mamãe. Mas jogar almofadas é tão bom! - Muito engraçadinho, você, né?!... E ainda acaba com as minhas lindas almofadas. Pode parar! – Dito isto saiu da sala e foi pra área de serviço lavar roupa.
Ícaro pensou... pensou... e concluiu:
- Mamãe está delirando. Esses ácaros não existem. Eu nunca vi!... – E continuou a jogar as almofadas.
Em dado momento, acertou uma almofadada no aparelho de DVD e este foi ao chão. É claro que quebrou. Não ia mais poder assistir os lindos desenhos animados que seu pai sempre trazia da locadora, depois do trabalho aos sábados.
Ficou paralisado olhando o aparelho no chão e só pensou nos seus filmes, nada mais.
De repente ouviu uma voz grossa e horrível, tirando-o do seu estado de choque:
- Viu o que você fez, seu doido?
Ícaro olhou pra todo lado e não viu ninguém.
- Ei... Quem falou isso?
- Fui eu, o Ácaro.
- Ácaro?!...
- É!... Ácaro. Não gostou do meu nome, seu bobo?
- Do seu nome até que eu gostei, parece com o meu. Só que não consigo te ver. Afinal, onde está você, cara?
- Bem na sua frente. Ou melhor... bem no seu nariz.
O menino levou a mão ao nariz e esfregou-o. O minúsculo bichinho só teve tempo de entrar na narina direita do garoto pra se esconder. Mas acabou provocando uma série de espirros em Ícaro, pois o menino era muito alérgico, como sua mãe já havia dito momentos antes.
- Atchim!... Atchim!... Atchim!...
E com todos aqueles espirros, atirou o pequeno Ácaro longe. Ele foi cair no sofá.
Ícaro resolveu sentar porque ficou meio tonto com os espirros.
- Ei, tire esse traseiro de cima de mim, cara!... Tá pensando que eu sou o quê? Almofada? Não sou não! Sai logo!... Tá me sufocando... – A voz do bichinho saiu abafada.
Ícaro deu um pulo e olhou pro lugar onde havia sentado e nada viu.
- Você está de palhaçada comigo! Cadê você?
- Só vai conseguir me ver se pegar o microscópio do seu pai.
O pai de Ícaro era médico e tinha um lindo microscópio, que é um aparelho que nos permite ver tudo o que é minúsculo e que não conseguimos enxergar somente com os olhos, de tão pequenininhos.
- Como vou fazer isso?... É muito pesado.
- Então, vamos ao laboratório. Eu vou ficar sobre a lâmina do microscópio e você vai me ver.
- Então vamos. Cadê você? Como vou saber se você está indo comigo ao laboratório?
- Pois eu já estou na sua frente. Você está atraaaaasaaaadoooo!...
- Ei, espere aí! – E correu pro laboratório do pai.
Ligou o microscópio e olhou através da potente lente. O que viu o assustou. Era um bichinho asqueroso, nojento, horrível. Mas não se deixou intimidar.
- Você é o Ácaro? – Perguntou seguro.
- Sim. Por quê? Não gostou de mim? – Perguntou com aquela voz grossa, assustadora e ameaçadora.
- Você não se enxerga mesmo! Não está vendo logo que posso acabar com você em um segundo? – Ameaçou também o menino.
- Aí é que você se engana, cara! Eu é que posso acabar com você em dois tempos. Já esqueceu a sua alergia? Eu sou mestre em provocar alergias nas pessoas. Você ainda duvida? Então vou te mostrar agora. – E dizendo isto, voou do microscópio e foi direto pra uma das narinas do pobre Ícaro.
O terrível bichinho começou a pular, bater e morder dentro do nariz do menino. E o coitadinho não pôde evitar os espirros.
- Atchim!... Atchim!... Atchim!...
O bichinho gargalhava e zombava do pobre Ícaro:
- Hahahahaha!... Viu como sou mais poderoso do que você? Eu posso acabar com a sua alegria, seu idiota! Sinta mais estas mordidinhas.
- Atchim!... Atchim!... Atchim!...
Ícaro não conseguia falar. Só espirrava sem parar.
- Agora eu vou entrar pelas suas vias respiratórias e vou até os pulmões morder tudo por lá. Pode me aguardar!
Ìcaro se desesperou e gritou a mãe:
- Mãaaaeee!... Socorro!... O Ácaro está me mordendo!... Atchim!... Atchim!... Atchim!...
Os olhos do menino estavam cheios de lágrimas que começaram a rolar pelas faces vermelhas de tanto espirrar.
A mãe veio correndo socorrê-lo.
- Eu não falei pra você parar de jogar as almofadas? Seu teimoso! Menino desobediente!... Vou pegar o remédio, fique calmo.
Ácaro se apavorou.
- Não, remédio, não!... Eu vou embora, prometo!
- Ah, é? Cadê sua valentia, seu covarde? Atchim!... Atchim!... Você não disse que é mais poderoso do que eu? Então vamos ver agora!... Atchim!...Atchim!...
- Filho, com quem está falando? – Perguntou a mãe com o vidro de remédio na mão.
- Não perca tempo, mãe! Pinga logo!... – E jogou a cabeça pra trás, pra que o remédio descesse narinas adentro.
A mulher, sem entender nada, pingou três gotinhas em cada narina.
- Agora vê se sossega num canto, filho. E seja mais obediente. É pro seu próprio bem, não esqueça. Leia um livro. É tão saudável ler, filho.
- Atchim!... Eu sei disso, mãe!... Nunca mais vou jogar almofadas, eu juro! E esse Ácaro atrevido que se dane!... Atchim!... Atchim!...
O Ácaro saiu capengando, todo molhado de remédio.
- Ai, cara!... Por que você fez isso comigo? Sou seu amigo. Eu só queria brincar um pouquinho com você...
- Brincar?!... Você chama isso de brincar?!... Eu odeio remédios, entendeu? De agora em diante eu vou me cuidar. Vou seguir os conselhos da minha mãe e as indicações do meu pai. Vou pedir a mamãe pra tirar todas as almofadas, os tapetes, as cortinas... Tudo que me causa alergia. Tudo que você e seus parentes adoram. E aí nem vou mais precisar de remédios, porque limpeza é tudo o que preciso pra me livrar de vocês, seu nojento malvado! Fora daqui agora, senão eu o mato! E fique sabendo que eu posso ser mais forte, se eu quiser. E eu quero! Serei limpo e só brincarei com as coisas que não me causam nenhum mal. E você e sua turma vão querer ficar bem longe de mim, tenho certeza. Porque vocês gostam de poeira, de sujeita!...
- Mas eu sou seu amigo!... Tenho até um nome parecido com o seu, lembra? Sou Ácaro, o amigo do Ícaro e...
- Que amigo que nada! Some daqui agora, senão eu o mato, seu malvado!
- Não, por piedade!... Já estou indo... já estou indo... Calma! – E foi saindo rapidinho e sumiu no mundo.
Ícaro passou a obedecer à mãe e a seguir as ordens médicas do pai e nunca mais precisou usar remédios contra alergia, graças à sua responsabilidade.
Mais uma do mesmo livro:
CALA-TE, BOCA!
Camila era uma menina de cinco anos que falava mais do que todo mundo.
Um dia a mãe de Camila não aguentando mais tanta tagarelice fez uma coisa horrível que não era pra fazer, mas fez. Passou um pedaço de fita adesiva na sua boca. Não queria fazer nenhum mal à sua filha. Só queria descansar os ouvidos um pouquinho.
A pequena Camila ficou assustada e sua boca foi enchendo... enchendo... Já estava quase explodindo quando a mãe resolveu tirar a fita adesiva.
Quando Camila pôde abrir a boca, as palavras saíram aos montes. Uma atrás da outra, com muita rapidez, embolando tudo: Lomblatagavarumefitomanijotalapiteviduzibrumpratrigotubajotacamomiladegrituandadapalmitrequegitabrum...
E parecia que não ia parar nunca mais de falar tudo embolado.
- Mas o que está dizendo, filha? – Perguntou a mãe muito assustada, pensando que a filha falava uma língua estrangeira.
Apavorada a menina fechava a boca com a mão pra não falar mais. Mas quanto mais ela fazia isso, mais palavras emboladas saíam.
Ela falava tanto que até doía os ouvidos das pessoas.
E assim ela cresceu.
Quando fez quinze anos parou de falar bem no dia do seu aniversário.
- Meu Deus, minha filha ficou muda de repente! Por que será?... Justo ela que tanto falava!
Levou Camila a vários médicos e ninguém descobria a causa do silêncio de Camila.
Até que um dia alguém indicou um médico que vivia do outro lado do mundo e lá foi a pobre moça tentar resolver o seu grande problema.
O tal médico examinou, perguntou, bisbilhotou, arriscou e por fim parece que acertou. A mocinha tinha falado tanto até os 15 anos que as palavras acabaram. Não tinha mais nada pra falar. Já tinha falado todo o estoque de palavras que tinha direito de falar por toda a sua vida.
- O que vamos fazer agora? – Pensou a mãe de Camila, cheia de medo – O que faremos pra que ela volte a falar?
Bem, o tal médico receitou um remédio mágico e muito eficiente, mas muito difícil de achar. Esse remédio tinha o poder de dar a ela um novo estoque de palavras pro resto de sua vida. E com a vantagem de ajudá-la a falar normalmente, sem pressa, sem embolar as palavras.
Onde encontrar o tal remédio?
Rodaram o mundo atrás dele e nada! Mas nunca desistiram de procurar. Até que um dia, quando Camila já estava com 20 anos de idade, finalmente, encontrou o remédio mágico que devolveria a ela as doces e maravilhosas palavrinhas.
Ficou tão feliz porque ia falar de novo, depois de tantos anos que quase morreu de tanto rir sem som.
A família dela fez uma festa e convidou todos os amigos pra assistirem o momento tão desejado.
- Atenção, pessoal!... – Chamou a mãe de Camila.
Todos ficaram em silêncio, na expectativa, olhando pra apreensiva Camila.
Então ela, com as mãos tremendo, abriu o vidro do remédio mágico e um cheiro agradável encheu a sala.
- Huuuuummmm!... – Todos exclamaram juntos.
Camila ficou indecisa, pois tinha medo de não dar certo e continuar muda.
- Tenha coragem, filha!... Beba logo!
Camila fechou os olhos e bebeu de uma só vez o líquido verde do vidrinho.
Permaneceu de boca fechada por alguns instantes e as pessoas não aguentavam mais de tanta ansiedade.
- Abra a boca, Camila! – Disse uma amiga.
- Fale alguma coisa, Camila! – Pediu outra.
Mas Camila se recusava a abrir a boca. As lágrimas escorriam no seu rosto pálido e a mãe dela pensava:
- Será que vai dar certo? Será que vai mesmo voltar a falar depois de tanto tempo? Será que este remédio é mesmo mágico?...
- Vamos, Camila, coragem! – Gritou alguém.
Camila foi abrindo a boca devagar.
- Óooooooooooo!... – Todos exclamaram em coro.
Fale alguma coisa, Camila! – Pediu a senhora sua mãe, já quase chorando.
- Mãe... – Disse baixinho, devagar e com muito cuidado.
- Uaaaaauuu!... – Novo coro se ouviu na sala.
- EU VOLTEI A FALAR!... E ESTOU FALANDO NORMAL!... – Gritou com todas as forças dos seus pulmões.
- Calma, Camila, vai ficar rouca! – Pediu alguém.
- É mesmo, cuidado! – Disse outra pessoa.
- É verdade. De hoje em diante só vou falar o necessário. Não vou mais jogar palavras fora!
A partir desse dia, Camila não falou mais nenhuma bobagem. Só falava coisas boas, mesmo quando só estava batendo papo com os amigos.
Atenção!
Esclareço à galerinha menorzinha que esta historinha é de mentirinha. Pode falar à vontade que nada ruim vai acontecer, certo?